A IDEIA de plenitude já foi abordada de diferentes modos por qualquer sociedade humana que parou de jogar pedra na cabeça de seus iguais por dois segundos, começou a olhar para o céu e a pensar no porquê das coisas. A noção de um estado de consciência de perpétua alegria sempre fascinou o ser humano. Uma abordagem que é comum a algumas escolas gregas de pensamento é a da Ataraxia. Vindo do léxico militarista o termo Ataraxis rigorosamente quer dizer “ausência de ameaças” mas em seu uso usual (boa essa frase, hein?) define um estado de ausência de paixões, onde livre dos sentimentos você se torna pleno para se dedicar ao pensamento puro, longe das amarras carnais que nos tornam escravos de nossas alegrias, impulsos e sofrimentos. No budismo um análogo quase perfeito é o de alcançar o Nirvana. Bom, isso não funciona, mas temos em nossas vidas momentos fugazes de alegria plena, que nos ajudam a seguir existindo neste universo ingrato, infeliz e injusto.

MEGADRIVE

O instrumento da minha plenitude.

Eu tinha por volta de 12 anos e era dezembro. Depois de ter passado de ano sem ficar de recuperação, não existia nenhum compromisso ou aflição naquele corpo magro e feliz. Eu fui ao mercado e comprei: uma Coca-Cola de dois litros, um saco de bala chiclé Big Bol. Me dirigi à locadora que tinha embaixo do meu prédio e aluguei alguns jogos para o meu Mega Drive. Voltei para o apartamento e eu era como um Deus, eu era a entidade que observa cada fenômeno possível e se delicia em cada um deles, ao mesmo tempo ator e observador imparcial dos segredos últimos do universo. Não existia tempo ou espaço, apenas meu copo de coca, meu saco de balas (chiclete) e um jogo horrível de videogame que eu não conseguia jogar direito, mas eu não estava nem aí, pois eu tinha chegado ao conhecimento supremo da alegria.

Eu estava pleno.