Arquivos para o mês de: setembro, 2012

DOIS GRANDES alicerces, não compreendidos, da civilização humana são elogiados na poesia da feijoada. O enfarte e a pressão alta. Os dois vem desde sempre renovando quem está vivo e acontecendo no mundo atual de hoje em dia. Feijoada é um tapa na cara da saúde médica, é um bem vindo enorme aos prazeres carnais, aos excessos temerários e cumulativamente auto-destrutivos do dia à dia.

Eis que você, companheiro brasileiro, vai lá e tem a opção de, às quartas-feiras, pedir uma feijoada light. Essa opção, em roupagem saudável, é uma facada nas costas na ideia de light. Ela tem tanto sal (avc) e gordura (enfarte) quanto a opção completa. O sal de uma unidade de torresmo, que veio em uma feijoada light que comi recentemente seria capaz de causar um acidente vascular cerebral em três hamsters de porte médio.

O cerne é que a feijoada continua sendo a beleza crua da morte lenta, e eu admiro isso. A feijoada light consiste em falta de rabo, orelha e outras nojeiras. É só uma desculpa para cobrar mais caro quando não colocam o entulho mais barato na cumbuca que vem à sua mesa. Mas talvez os homens da ciência que não puderam, ainda, parar o câncer, o enfarte e o avc, possam criar um porco sem orelhas e sem rabo. Então todas as feijoadas serão iguais aos olhos do criador.

O QUE DEFINE um caipira em si? Qual o traço característico que o distingue de outras espécies? Será o lugar onde nasceu? O chapéu de palha? A enxada? A visão leve e resignada para com os infortúnios da vida? As metáforas, alegorias, parábolas e analogias envolvendo porteiras e cobras?

Duas pinceladas talvez definam melhor o caipira contemporâneo assim como o caipira primêvo, o Caipira Original. A camiseta de verador e a disposição desconfiada. A camiseta pois ele é um homem prático, sabe que as coisas não duram, e está mais interessado no preço da saca de feijão do que liquidações de roupas coloridas. Ele não quer saber se o candidato a vereador que deu-lhe a camiseta faz parte da coligação evangélica, direitista, esquerdista, centralista ou o caralho.

O olhar desconfiado também vem da vida prática e conhecimento empírico, saudavelmente não atento às nuances mais sensíveis do intelecto humano, ele desconfia de terreno desconhecido. Como essa tomada tem três pontas? O que rái é um smarfifone? Eu que não vou andar nesse tatuzão subterrâneo! O caipira original pisa em terreno firme, de preferência fértil e bem irrigado. Ele não precisa ser lavrador ou caseiro, apenas manter a espinha arqueada e estar sempre com a lingua engatilhada para disparar um sincero e totalizador “Uai?”.

ROUBANDO a ideia em forma, gênero e grau, começo uma série iniciada pelo meu grande colega e filósofo Stan Molina. Grandes Diálogos. Ela pode ou não ter continuação, série não é compromisso. Segue:

eu: cara, se brincar a gente podia comprar um galpão e colocar uns três professores de yoga anêmicos cuidando de uma horta orgânica gigante

no coração de são paulo

aí a gente faz um serviço de entrega semanal

os cara de bike, lógico

vamos virar os reis de perdizes

stan:  é mais do que sustentável isso aí

eu:  sustentar minha continha no itaú huahuahuahauahuahu

stan:  huahauuha

eu:  se der treta com praga a gente contrata um biologo doidera e chama ele de “Encantador de Joaninhas”

stan: cacetada

Biólogo Robson, O Encantador de Joaninhas.

PÅO FRANCÊS, atum em lata, tomatinho cortado. Era a minha idéia de um almoço econômico e, por que não? Saboroso. Não sei o que houve naquela cidade para eu ir em três vendas perto do trabalho procurando um maldito de um tomate para comprar. Não tinha. Segui em frente com a meu plano original e comi pão francês com atum ralado enlatado em óleo comestível. Comestível, não é uma expressão muito apetitosa.

Não me parece um elogio à comida ter que descriminá-la enquanto comestível. Abri a lata do atum, drenei o que consegui do óleo e montei dois sanduíches. Comi  na sala dos fundos da firma, joguei um molho de pimenta mas só pareceu piorar. Alguém da firma foi lá atrás e ficou puxando papo comigo enquanto eu comia, eu não queria papo, eu só queria um tomatinho pra incrementar o meu atum. Aliás com esse preço do tomate provavelmente não seria um lanchinho econômico não ;(