DOIS GRANDES alicerces, não compreendidos, da civilização humana são elogiados na poesia da feijoada. O enfarte e a pressão alta. Os dois vem desde sempre renovando quem está vivo e acontecendo no mundo atual de hoje em dia. Feijoada é um tapa na cara da saúde médica, é um bem vindo enorme aos prazeres carnais, aos excessos temerários e cumulativamente auto-destrutivos do dia à dia.
Eis que você, companheiro brasileiro, vai lá e tem a opção de, às quartas-feiras, pedir uma feijoada light. Essa opção, em roupagem saudável, é uma facada nas costas na ideia de light. Ela tem tanto sal (avc) e gordura (enfarte) quanto a opção completa. O sal de uma unidade de torresmo, que veio em uma feijoada light que comi recentemente seria capaz de causar um acidente vascular cerebral em três hamsters de porte médio.
O cerne é que a feijoada continua sendo a beleza crua da morte lenta, e eu admiro isso. A feijoada light consiste em falta de rabo, orelha e outras nojeiras. É só uma desculpa para cobrar mais caro quando não colocam o entulho mais barato na cumbuca que vem à sua mesa. Mas talvez os homens da ciência que não puderam, ainda, parar o câncer, o enfarte e o avc, possam criar um porco sem orelhas e sem rabo. Então todas as feijoadas serão iguais aos olhos do criador.