HOJE EM DIA, não sei por qual processo de constrição ou sua origem e telos primeiros, uma das coisas mais feias que se pode fazer com outro ser (humano ou não) é julgá-lo. Em nome da falsa boa vizinhança e do melhor convívio entre pessoas anuladas, nunca se diz que tal ou qual coisa é errada, a não ser na exceção da ofensa e ferimento pessoais: quando as regras selvagens da paixão tomam conta, sendo todos nós vítimas de uma noção romântica de vida, onde a explosão violenta dos afetos em casos extremos não é apenas permitida, como perdoada e apreciada. Nisso não se perde apenas a reprimenda do ato errado de algum indivídio, mas também a própria melhora do processo de julgar o próximo. Se julga, mas se julga em segredo, nunca sabemos se nossos julgamentos de fato são bons.

O único juíz presente é o meta-juiz, que reprime o ato do julgamento em si, em nome de não sei o que, de suposta melhora, não sei para quem. O meta juíz do relativismo está sempre com o foco posto em nossos rostos para ver se nossos olhos julgarão alguém; privilégio único seu.

caras

todo mundo julga

Ao julgar em segredo, o aperfeiçoamento das atitudes e valorações escondidas é a única coisa que melhora claramente, se esconde não apenas o que se acha, mas o que se sente e pensa sobre as coisas, os atos, as pessoas. Pela supressão geral do ato aberto do julgar nos tornamos perfeitos juízes do errado dos outros, nunca somos juízes de nossa própria capacidade de julgar, menos ainda da sua função. Somos todos seres morais, mas em silêncio, no claustro recluso do convívio familiar e de melhores amigos. Não se julga publicamente. Perde-se hoje em dia, a beleza de dizer que tal ou qual coisa é errada, se repara, se anota, se fofoca, não se fala as coisas de cara limpa. Nos tornamos pessoas menores ao não julgar não apenas os outros, mas especialmente nós mesmos, o julgamento nunca morreu, mas se tornou covarde, escondido.

Ao aplicar um julgamento e abrir com os aplacantes “eu acho” e “para mim” e “do meu ponto de vista” se chama a atenção para um ‘neutro’ e arrogante si, e não para as coisas mesmas, nos escondemos atrás de uma noção de gosto em oposição a um saudável julgamento que nos faria todos pessoas melhores.